sábado, 27 de setembro de 2014

" Desconectados uns dos outros "


Muitas vezes, coisas acontecem em nosso dia a dia que sequer percebemos o quanto nos tornamos dependentes e alienados e que precisamos mudar isso enquanto não estamos totalmente dominados e prejudicados.
Lembro-me de algumas décadas atrás, quando eu era criança, onde as brincadeiras e diversões eram absolutamente inocentes e criativas; quando o dia era extenso e tínhamos diversas formas de ocupar cada minuto; quando reunir os amigos para jogar futebol, andar de bicicleta, andar de carro de rolemãs e até mesmo as brincadeiras de esconde-esconde ou pega-pega eram as mais divertidas.
Eu mesma, ficava com a bunda assada de tanto andar de bicicleta e vivia toda arranhada de correr as ruas com carrinho de rolemãs. Tudo era muito divertido e fazíamos tudo isso sempre rodeados de amigos que eram vizinhos.
Hoje, no atual século, o que vemos é um mundo tecnologicamente programado e conectado, onde as pessoas estão cada vez mais distantes umas das outras; por meio das redes sociais, as pessoas mantém contato através da tela fria do computador e raramente encontram-se para fazer qualquer programação juntas.
A cena mais comum na atualidade é talvez a imagem que nos dá a dimensão da individualidade das pessoas em relação aos outros e da distância entre um e outro; o mais interessante é vermos pessoas se reunirem em um determinado lugar e quando espera-se que estejam conversando e se divertindo juntas, estão cada um, conectados nas redes sociais sem interagirem entre si.
Ao entrar em qualquer recinto, o que vemos é sempre a mesma cena - celulares nas mãos, olhos na tela e uma enorme distância entre aqueles que estão um ao lado do outro; os assuntos prediletos são sempre os mais fúteis possíveis e os reais valores ficam apenas na história.
Os mais positivistas acreditam numa mudança radicalmente necessária, ou seja, voltar-se um pouco ao passado e resgatar as raízes, costumes e hábitos mais saudáveis, integralizados e participativos; os mais pessimistas acreditam numa catástrofe entre os seres humanos que se tornarão cada vez mais solitários, confusos e depressivos.
A busca incessante da tal felicidade, da harmonia entre os povos e da universalidade dos pensamentos já não são mais os ideais mais ideais; o ideal tornou-se a corrida acirrada para a conquista de bens materiais, de visibilidade, da ascensão profissional galgada com " puxadas de tapete", mentiras e ludibriações.
A distância entre um ser e outro, preconiza a desunião, a discórdia, a ausência do amor e do respeito; a distância entre um ser e outro nos faz solitários e ausentes de uma realidade, tornando-nos insensíveis, egoístas e porque não dizer : cruéis.
É uma guerra do ser contra o próprio ser, uma guerra do ser contra si mesmo, uma guerra do ser contra suas próprias criações.
Dentre todos os males que se produzem entre as nações, o maior mal é aquele que as separa - a solidão, o desapego, a indiferença. E é este mal que está impregnado entre nós, tomando conta de todos sorrateiramente, até que acordemos desta negligência sonolenta.
Assim como tudo na vida, há aquilo que nos faz bem, mas que em excesso, também nos faz mal; assim como tudo ao nosso redor, há aquilo que nos auxilia, mas que também pode nos derrotar.
Enquanto buscamos valores passageiros, a verdadeira essência da vida passa diante de nossos olhos sem que percebamos quanto maior e mais importante ela é; a natureza, o ser, a nossa evolução deveria ser para mais, mas, no entanto, nossa evolução nos levou para menos.
Deveria ser mais no amor, mais no respeito, mais na caridade; menos na guerra, menos no desafeto, menos na discórdia. Tudo que criamos e que temos na terra é feito para nos servir, não para que sejamos escravos destes.
Mais interação menos redes sociais, mais integração menos tecnologias, mais calor entre os seres humanos, menos telas frias; assim como é por meio delas que obtemos agilidade e rapidez nas soluções diárias das necessidades civis, assim também é por meio delas que cultivamos a distância e frieza com os demais.
" O ser humano não é uma máquina, é um ser dotado de corpo, alma e espírito."

Por : Fátima Alcântara