quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Reféns do caos.

Gostaria de ser mais realista com as emoções do que sou com a vida; muito embora as pessoas tenham o cérebro pra usar, ainda preferem gastá-lo com asneiras e futilidades. Fico pensando, cada vez que me sento em frente a uma televisão e vejo as barbaridades que acontecem no dia a dia do ser humano. Eu vejo os rostos cansados e corpos largados diante da rotina de acordar cedo pela manhã para ir trabalhar e isso piora ao entardecer quando acaba um longo e cansativo dia de trabalho. Alguns saem e vão direto pra casa, outros ainda têm que enfrentar mais uma maratona que é a de ir pra faculdade (assim como eu); e na pior das hipóteses, ainda enfrentar um longo trajeto de volta ao caminho  de casa.
Fico olhando as pessoas dentro do transporte público e imaginando como seria se estas não tivessem se tornado robôs alienados e não estivessem tão presas a tantas coisas passageiras e à influência comercial do capitalismo que sucumbe com a nação, oferecendo vantagens a uns poucos em detrimento de muitos. Na atualidade, o objeto mais usado, mais visto e cobiçado pela maioria é o celular - sim, este aparelho tomou conta dos mais leigos e conseguiu ocupar um espaço que deveria ser privativo de uma boa conversa e de boas risadas.
Um vai, outro vem, e a história continua a mesma; o desinteresse e o descaso viraram características naturais em meio a tantas pessoas, seguindo os rituais preconcebidos por uma sociedade capitalista. Se saímos para trabalhar com veículo próprio, a coisa muda de figura, mas o fator é o mesmo - ferozes máquinas de correr nas ruas apertadas e cheias de semáforos, um caos originado pela paixão dos homens e pela ambição de comodidades. E ainda mais agora que inventaram a tal faixa privativa dos ônibus - os veículos pequenos fazem todos os dias uma procissão que aumenta em mais uma hora seu percurso a qualquer lugar que vá. E ainda me pergunto: " Faixa de ônibus - aumenta a velocidade dos ônibus para chegada ao trabalho e retorno para casa. Incentivo para que ( os pobres) deixem seus carros de passeio na garagem e vão de ônibus ao trabalho. " Isso, favorece alguns poucos que com certeza jamais andariam de ônibus. Muito sutil!
O tempo percorrendo no ar e no relógio, determinando cada passo, cada ato, num mundo que permanece inerte à realidade futurística que está à frente;  as estações anunciando as catástrofes na natureza e os acontecimentos mostrando que estamos nos tornando menos humanos. 
Um ser engolindo outro numa corrida desenfreada para satisfazer suas ambições e transformando a cada dia, aquilo que chamávamos de relações pessoais em verdadeiras arenas de intrigas e conflitos. Seja no ambiente familiar ( se é que ainda existe), seja no trabalho ou no ambiente estudantil, a arena está formada para quem quer que seja, de uma forma ou de outra ; senão pelas intrigas e conflitos, mas pela indiferença e menosprezo.
Os homens agindo como gladiadores numa arena onde, o dilema é " matar ou morrer ", afiando suas armas no intuito de tirar de seu caminho quem cruzá-lo para impedir seus " objetivos "; e entre um fato e outro, como num efeito dominó, os fatos vão dando continuidade e desencadeando um problema atrás do outro.
O que antes fora um mundo agora tornou-se o palco de inúmeras situações adversas, onde o olhar do homem, permanece inerte e envolvido pela fantasiosa ideia de que tudo é para sempre. O sangue já não faz mais um elo perfeito, já não se olha para os seus com os mesmos olhos. A mente humana abre portas para o mal, subjetivamente falando, deixando de lado, e bem distante por sinal, aquilo que um dia foi chamado de  " valor " e que hoje, tornou-se parte de artigos filosóficos apregoados entre estudiosos, mas pouco vivido até mesmo pelos que o ensinam.
Bravamente ainda, alguns, tentam escapar à todo este caos ocasionado pela ambição desenfreada do homem, em busca daquilo que não poderá levar quando partir daqui; e há quem diga e até encontre respaldo, numa filosofia do crescimento socioeconômico. O troféu ofertado é para aquele que sobressaiu em meio à muitos e conquistou aquilo que os olhos podem ver e o dinheiro pode comprar; não há troféu se não há bens a se conquistar.
Os valores que a muito foram ensinados por nossos antepassados, hoje são relíquias que ficam apenas na vitrine como peça de museu, apenas para  análise crítica e uma admiração fútil e despropositada. Os homens passam a ter como ídolos os mais sórdidos exemplos simplesmente por serem estes símbolos de uma mídia alienadora e insidiosa.
Já não há super-homem ou mulher maravilha; já não há mais o exemplo a seguir à partir daqueles que o geraram; tudo está corrompido. E basta alguém chegar à ascensão e deixa de ser ignorado; já aquele que ainda não chegou, mas preserva a mais sublime humildade, é visto com repúdia por uma sociedade absolutamente arrogante e desprezível.
Dá-se hoje, mais valor a uma pintura borrada num quadro do que a uma vida que necessita do pão para sobreviver; dá-se mais valor a um artista ou jogador de futebol do que a uma vida que necessita do pão para sobreviver; dá-se mais valor a um objeto de cobiça do que a uma vida que precisa do pão para sobreviver...e ainda queremos falar de caridade ou de fraternidade?
Somos hoje reféns, à mercê da indução, não de alienígenas ou seres extra-terrestres, mas de nós mesmos; reféns do medo que nos assombra com a violência daqueles que anseiam também pela ascensão e da imoralidade daqueles que transformaram os seres em objetos de uso  à seu bel prazer.
O caos assola a sociedade e a sociedade, consciente de seu estado, permanece inerte, entregue aos capricho destes. Causa e efeito - estas duas palavras são congruentes entre si; o efeito de todo o caos no mundo foi projetado pelas causas que lhe deram abertura, que as fizeram acontecer. O " bem e o mal " até onde se pode conhecer são partes presentes no homem e na vida e não se pode atribuir apenas a um deles os efeitos do caos.
Estamos reféns de nós mesmos, reféns de uma sociedade corrompida, reféns do nosso próprio mal e reféns dos nossos próprios atos, estamos reféns do caos. Guerras, fome, doenças...o " mal " assolando a humanidade... Até quando?



Por : Fátima Alcântara