segunda-feira, 16 de abril de 2012

O LUXO E O LIXO.


Luxo e lixo; lixo e luxo; é possível separá-los? O luxo de poucos pode ser o lixo de muitos. As espécies iguais, desfrutam de luxos e lixos diferentes. Não há poesia nessa discrepância, não há poesia no luxo usurpando o lixo.
Enquanto milhões absorvem do luxo o seu luxo no lixo; o luxo absorve do lixo, o resto do luxo. Diferenças, divergências, desigualdades, não são poéticas, mas, consequências de um mundo em transição. Existem males que são necessários, mas que sejam os menores, estes males.
O luxo, cada vez mais luxuoso e o lixo cada vez mais volumoso faz a contradição entre seres iguais; alguns muito ricos, outros muito pobres; poucos excessivamente ricos, muitos excessivamente pobres. Aí está o efeito de uma sociedade totalmente desnorteada pela ambição de muitos em face da falta de oportunidade de milhões.
Políticos, ricos e famosos vêm o lixo como uma praga e não pensam em acabar com ela; na verdade seu luxo depende do lixo e eles sabem disso. Não importa quantos mendigos e andarilhos existem nas ruas; não importa quantos famintos estão a pedir por misericórdia; importa sim, que suas bolsas e sapatos sejam de couro alemão; que seus carrões os desfilem pelas ruas como príncipes e que suas contas bancárias estejam gordas e fartas.
Enquanto os olhos do miserável olham o horizonte sem sentido, os olhos dos poderosos e ricos olham o horizonte cheio de cifrões; enquanto os  trapos rasgados, sujos e fedorentos dos miseráveis se arrastam pelas alamedas, as finas sedas esvoaçam ao vento como lençóis belos e cheirosos.

O luxo, encanta, fascina, instiga a vontade de muitos, mas a oportunidade é quem faz a diferença; é ela quem minimiza as exorbitantes distâncias entre ricos e pobres. No luxo, alguns nasceram, outros galgaram, outros usurparam; no lixo, muitos nasceram, outros caíram e muitos foram lançados.
O luxo e o lixo; contrário do que possam pensar ambos, não estão distantes, mas ligados um ao outro; o que seria do rico se não existisse o pobre para limpar a sua sujeira? Um outro rico se sujeitaria a isso? Nunca! O que seria do pobre, se não existisse o rico, que precisasse de sua cooperação, de seu trabalho, de sua mão de obra? Um pobre teria como pagar outro pobre?
Não há proibição nem pecado em ser rico; há sim, pecado em se permitir a enorme desigualdade entre os iguais; permitir-se ter 3 ou 4 casas, quando muitos não tem sequer uma; permitir-se ver a sua mesa farta de alimentos, enquanto muitos buscam restos nas latas de lixo nas ruas. Nisso está o pecado. 
Enquanto uns poucos, por exemplo, jogadores de futebol, ganham milhões por um mês, sendo componentes de um time, outros ganham um salário mínimo (bem mínimo) por um mês árduo de trabalho. Enquanto uns poucos acumulam riquezas entre imóveis, veículos e contas poupudas; outros sobrevivem de trocados.
A suntuosidade das suas mansões, de seus carrões e iates se contrapõe aos barracos de tábua dos desabastados, de suas roupas surradas e de suas panelas vazias.
Enquanto ricos gastam seu dinheiro em coisas fúteis e banais enchendo os cofres de outros ricos, pobres lutam pela sobrevivência terrena; enquanto gastam muito dinheiro em plásticas, roupas e acessórios caríssimos,  os pobres tentam baratear seu custo de vida para adequarem-no ao salário mínimo.
O intuito não é exterminar a riqueza, mas minimizar as desigualdades.
O luxo precisa do lixo, assim como o lixo precisa do luxo.
Até o momento em que o escambo existia por simples sobrevivência, tudo estava igual, mas a partir do momento em que alguém descobriu que o seu era maior, mais importante ou mais demandado que o do outro e que, com isso, poderia lucrar; aí então surgiu o luxo usurpando o lixo. 
A ambição de ter mais e mais e o desumano sentimento de desprezo pelo sofrimento alheio fez distância entre iguais.
Uma frase do querido e polêmico CLODOVIL HERNANDES - " Todos nós serviremos de adubo para a terra, quer queiramos ou não; não entendo porquê alguns querem acreditar ser melhores que outros."
"Somos todos iguais e as nossas diferenças estão apenas naquilo que você pensa ser e o que realmente é."



Por : Fátima Alcântara



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