domingo, 16 de junho de 2013

Inocência Perdida


" Olhando aquele pequeno ser chegando ao mundo, extraído do útero de sua mãe, belo rebento que traz alegria àqueles que esperaram ansiosamente por 9 longos meses."
Os projetos e sonhos idealizados em torno de um pequeno ser que rompeu a mística e maravilhosa luz da vida; o amor imenso e inexplicável da mãe que rompe as razões humanas.
Mas um dia, esta alegria tão intensa, muda de figura, destrói os sonhos e projetos dos pais e transforma-se nestes que hoje, aterrorizam a sociedade num crescimento incontrolável nas vias marginais de uma sociedade desestruturada e negligente.
A marginalização dos adolescentes não sucede a fatores sublinhados nos lares mais humildes ou naqueles em que os pais são ausentes; esta marginalização está acontecendo aleatoriamente, sem fazer escolhas sócio-econômicas.
Nós, seres humanos, não viemos totalmente " prontos " ao mundo; trazemos em nossa genética, aquilo que pode ser absorvido no sangue; traços e porte físicos, trejeitos, voz, cor, e mais algumas características minúsculas; mas ao longo de nosso crescimento, vamos adquirindo o que chamamos de " matéria-prima do meio ".
Numa sociedade com sistema de controle estratificado, totalmente consumista e competitivo que baseia seus valores nos bens que um sujeito possui, na beleza física, na esperteza e na quantidade de números que possui sua conta corrente, o comportamento marginal nestes garotos (as) perdidos(as), encontra amparo para se deflagar o caos  numa parte frágil desta sociedade.
E alguém pode usar a frase - " Basta ter esforço e trabalhar que não será necessário roubar."....será?  Eles são " produtos do meio " em que vivem, a sociedade os transformou,; não estou fazendo aqui defesa destes infratores, porém, baseando-me no fato de que " ninguém nasce pronto " e que se as oportunidades fossem iguais para todos, uma boa parte destes não ingressariam por este caminho.
Existem uma diversidade de fatores a serem estudados entre estes garotos (as) que começam em casa, no lar, entre a família e terminam nas celas de internação; os fatores sociais sempre ligados à auto-estima, à condição social e ao convívio social são relevantes no desenvolvimento e estrutura psicológico-social destes garotos (as).
A ausência eficaz e permanente dos pais na educação do lar, a deficiência no interesse escolar e a influência daqueles que já se perderam pelo caminho, são também fatores condicionantes para desencaminhá-los; há um colapso nas políticas públicas de educação e sócio-educativas que precisam ser analisados e desveladas as contradições que as envolvem.
A evasão escolar é sem dúvida a porta para a inserção destes que os remete a dois espaços distintos - a sala de aula e a cela.  A baixa escolaridade é um dos motivos para o aumento da criminalidade destes menores, assim como de sua imensa distância do racional e do coerente; eles sabem que seu caminho é quase " sem volta ", mas mesmo assim, encontram-se conformados e prontos para entrar numa guerra suja e cruel, perdendo a noção do valor da vida.
Se formos desenhar uma árvore genealógica para descobrir o ponto de partida da "culpa" por essa desordem no desenvolvimento dos adolescentes nesta sociedade, saberemos que a desigualdade social e a falta de oportunidades iguais são os fatores que propiciam este crescimento da marginalidade.
Psicólogos, sociólogos e tantos outros estudiosos sobre o assunto, fazem suas doutrinas e tentam unificar os conceitos da melhor forma para diminuir o crescimento desenfreado da marginalização dos garotos(as), mas sem a consciência e vontade política nada se pode alcançar de muito relevante.
É preciso retomar os fatos do princípio e tentar encontrar o meio mais adequado para a ressocialização, mas principalmente, para evitar que  saiam das salas de aula e cheguem às celas. 
A educação é a ponte mais eficaz para introduzir na sociedade os valores e conceitos morais e éticos adequados à uma sociedade bem estruturada; a base encontra-se no lar, dentro de casa, entre a família e dela provém a ideia de que, o melhor caminho, é sem dúvida, a educação e a diminuição da desigualdade social.
Eles não podem ter tênis, roupas e aparelhos eletrônicos caros; eles não podem ter o mínimo daquilo que a mídia " incita " ser o melhor; eles não podem alcançar objetivos e ter perspectivas sobre o futuro; eles não podem enxergar uma " luz no fim do túnel " além da luz abstrata do caminho da morte...
Eles podem ser bons e honestos, trabalhadores e decentes? Eles deveriam ser...como pode uma garoto (a) entra na sala de aula e suportar a zombaria de alguns colegas porque o tênis dele não tem "marca" ou que a sua camiseta não é de "etiqueta", ou até mesmo por morar num bairro e casa mais simples e humilde?
Seria necessário uma estrutura psicológica bastante resistente e uma auto-afirmação de si mesmo além dos padrões naturais humanos; o reflexo de tudo isso, somado aos conceitos pré-concebidos da sociedade midiática que insiste em inserir nas mentes a ostentação.
As políticas públicas têm que atentar-se com muita ênfase na busca de soluções para os problemas sociais que vêm transformando cada vez mais, jovens em menor idade nos criminosos mais violentos até pouco tempo, vistos apenas em adultos criminosos.
Tudo é apenas um efeito dominó que vai desencadeando os fatos sociais que transformam uma sociedade nisso que estamos presenciando em diversos países do mundo. É preciso dar soluções e não " varrer a sujeira " para debaixo do tapete.




Por : Fátima Alcântara




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