domingo, 23 de junho de 2013

COTIDIANO

É interessante como nós seres humanos, vivemos um cotidiano tão conturbado e complexo que acabamos por deixar passar desapercebido, coisas tão pequenas, mas tão significantes do dia a dia. Tudo começa quando você se levanta pela manhã; sair da cama já é um sacrifício, embora sejam apenas minutos, pois, depois que você sai do chuveiro, parece que recebeu uma carga de 220 W.
Quando você se olha no espelho, tem dias que a vontade que dá é voltar pra cama e dormir até o último do sono, mas é obrigado a dar um " up " nos pensamentos e correr contra o tempo porque seres iguaizinhos a você, estão atrasados da mesma forma. É aí que você percebe que existe uma enorme diferença entre 6:00 hs e 6:05 hs.
O pior dos dias é aquele em que tudo parece estar dando errado; a roupa que você queria usar naquele dia está na lavanderia, seu cabelo parece ter sido emaranhado, seu corpo parece ter levado uma surra durante toda a noite e quando você olha no espelho...affs...sua pele está igual a papel amassado.
Ahh, como este dia podia acontecer algo de extraordinário, no qual você pudesse usar como desculpa para não ter que ir trabalhar; mas enfim, se você se permitir isso por um dia, vai querer fazer isso todos os dias, porque a preguiça sempre arranja um jeito de se alojar em você todos os dias pela manhã; em tempos de inverno então, sair debaixo do edredon é como uma longa e cansativa maratona.
Não existe nada pior do que você, depois de passar por todo este processo entre sair da cama e sair de casa para trabalhar, ter que encarar de frente, outros milhões de seres humanos, com a mesma rotina que você, nos meios de transporte abarrotados e lentos em horário de rush.
Seu dia já começou estressante; você entra no meio de transporte e tem que suportar o espaço mínimo de menos de um metro quadrado para dividir com média de 3 pessoas ou mais - e o que é pior - se você tirar o pé daquele lugar, vai ter que ir como saci até esvaziar-se o espaço que você está.
E, para ser ainda pior - o que os meios de transporte conseguem - são aqueles tais seres humanos do gênero masculino, que acham que bunda de mulher é encosto para consolo de seu pênis carente; essa situação, muitas vezes torna-se até cômica. Certa vez, estava dentro de um metrô, quando ouvi os gritos de uma senhora que batia fortemente num homem com sua bolsa; este indivíduo, protegia com sua bolsa, o seu pênis porque estava fora da calça. A senhora, revoltada, tentava arrancar de suas mãos, a bolsa, que o protegia. A situação, se não fosse trágica, seria no mínimo cômica; o que não deixou de provocar muitos risos em meio à revolta das mulheres dentro do metrô.
E ainda pior é saber que você já não tem mais opção; se você resolve ir pelos meios de transportes públicos, você encara a super lotação, o desconforto, os atrasos e o trânsito; se você for de veículo próprio, você encara o congestionamento, o estresse na direção e a dor no bolso pelo gasto do combustível.
O que não se pode deixar de contar também, somando aos diversos problemas no trajeto ao trabalho, são os odores, que, dá a impressão de que algumas pessoas são adeptos de alguma tribo que não é muito fã de chuveiro; mais ainda, aqueles que parecem ter sérios problemas com a escova dental; e para não esquecer aquilo que, na minha concepção é o pior de todos - aquele indivíduo que passa no boteco antes de entrar no meio de transporte e seu café da manhã é um copinho americano de pinga pura e uma cebolinha em conserva.
Enfim, depois das muitas angústias passadas no trajeto para o trabalho, você tem que sair para fora deste meio de transporte; bem, sair não é um problema, sair é a condição; ou você sai por livre e espontânea vontade ou você é "expulso" com ou sem vontade.
Quando você consegue chegar ao trabalho, já muito cansado, desgastado e estressado, você sabe que vai encarar mais um pequeno problema - o chefe - ahh, o chefe...nem sempre damos sorte que este seja aquele chefe bacana que tem um certo equilíbrio no relacionamento chefe-subordinado; existem aqueles que trazem todos os seus problemas pessoais juntos para a empresa; a mulher disse, à noite, que estava com dor de cabeça e ele não conseguiu dar uma " rapidinha " para aliviar a tensão do dia! Aí, você vê na cara dele que a noite não foi nada boa e o " bom dia " vem com gosto amargo de " não se dirija à minha pessoa ".
O seu dia é repleto de todos os acontecimentos possíveis, bons e ruins e o que você mais espera é chegar a hora de almoço pra dar uma paradinha e tentar em mais ou menos uma hora, aliviar a tensão que começou bem cedo.
Enfim, chega a hora mais esperada; a saída do trabalho, a hora de ir pra casa; e você já sai pensando em como será seu trajeto de volta, já que é o mesmo que você fez pela manhã para chegar ao trabalho. A única diferença é que este horário é um pouco melhor porque você sabe que depois de chegar em casa estressada, você poderá entrar embaixo de um chuveiro e relaxar o corpo na água quente.
Enfim, você chega em casa...e se você tem filhos, eles já correm pra cima de você, falam todos ao mesmo tempo, querem, todos, a máxima atenção, fazem cobranças, reclamações, e lá está você novamente, numa zona de conflitos diários.
Quando enfim, você consegue pôr a cabeça no travesseiro, vem seu maridinho ou esposa e resolve querer fazer amor; dependendo do seu estado de espírito,  ou você está muito cansada e inventa algo pra fugir deste momento, ou você está bem a fim, e tem mais uma maratona a cumprir pra findar o seu dia.
Enfim, seu dia é tão cheio de tarefas que sua mente e seu corpo acabam por se acostumar com esta rotina, sem se dar conta de que algo precisa ser mudado para não entrar na rotina. E é aí que entra, aquele algo que passou desapercebido. 
Nesta rotina diária você não conseguiu enxergar muitas coisas que podem mudar seu dia, coisas que só podem ser percebidas com um olhar mais clínico, com um ouvido aguçado; para perceber este algo você tem que estar numa sintonia consigo mesmo e parar por um segundo que seja e se desligar do cotidiano e das preocupações.
E na verdade, nada disso importa muito, porque na verdade, somos criados numa cultura que não nos permite viver bem com a tranquilidade e a passividade; adoramos essa correria, essa adrenalina toda, essa loucura.
Estamos tão enraizados no barulho do trânsito das grandes metrópole, dos grandes centros comerciais, em meio à poluição e tempo escasso.
Toda essa atividade faz parte de todo nosso momento e só vai se tornando inconveniente quando você vai envelhecendo, que é um momento físico e psicológico em que você está tão desgastado por tudo isso, que não aguenta mais e já deseja um lugar mais tranquilo, silêncio, natureza.
É nesse momento que, alguém que viveu toda esta rotina pára pra pensar e diz pra si mesmo : " Estou ficando velho "; e aí vem mais uma neurose na vida deste ser - inconformismo - sim, inconformismo com a velhice que se aproxima; nem todas as pessoas sabem lidar com isso e nem todas aceitam esta condição que é inevitável na vida do ser humano.
Afinal de contas, a vida é um ciclo com pontos marcados; acostumar-se, aceitar, absorver os acontecimentos do dia a dia é o mais natural possível para quem se propôs a, simplesmente viver; porque o conflito mais sério na vida do ser humano é o único com o qual, ser humano algum quer pensar ou acostumar-se ; a morte.
Enfim, nascer e morrer são as lógicas da vida, porque o resto...ahh, o resto são apenas circunstâncias e consequências dos nossos atos e vontades. Daí, a única coisa a se fazer : Viver. Porque não há segredos, não há projetos, não há fórmulas; nada pode ser exatamente calculado ou formatado. Simplesmente viver.




Por : Fátima Alcântara

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