Casais homossexuais e seus filhos adotivos e biológicos - Entrevista a revista Crescer - JAN/2007
"Não sabia como contar aos meus filhos que, depois de um casamento de nove anos com o pai deles, eu tinha decidido assumir minha homossexualidade. Que desde meus 8 anos já dava sinais de que, pela vida toda, iria gostar de mulheres. Um dia, falando por telefone com uma ex-namorada, a Fê ouviu a conversa e correu para o quarto. Chorava demais. Fiquei aflita. Desliguei o telefone e, com muito jeito, fui falar com ela. Expliquei que era por isso que tinha me divorciado, que vivia infeliz e que precisava do apoio dela para prosseguir. Voltamos a dialogar normalmente depois de uma semana.
Não é fácil assumir a homossexualidade, ainda mais para os filhos. O amor que sinto por eles é o mesmo. Acredito que eles perceberam e gostaram dessa ‘revolução’ pela qual passei. Voltei a sorrir. Se alguém acha que é brincadeira, por favor, me respondam: por que eu, depois de 30 anos, compraria uma briga com a família e a sociedade para mostrar quem sou? Meu ex-marido, que é evangélico, diz que sou louca e que vou desvirtuar as crianças. Ter filhos não tem nada a ver com ser heterossexual ou não. Sempre quis ser mãe.
Imaginando o que as crianças poderiam passar, pedi que não comentassem nada na escola. Minha orientação sexual não muda nem o comportamento delas nem as pessoas que elas são. Só não quero vê-las sofrer. Fora de lá, a situação é diferente. Os vizinhos nunca falaram nada comigo. Talvez porque me conhecessem de outros tempos, da época em que era uma mulher casada, com uma família tradicional. Mas me respeitam. Em casa, tento, todos os dias, mostrar que não se pode ter preconceito com o próximo. Com os pequenos, o processo foi natural. Eles, sozinhos, notaram as mudanças pelas quais eu passei. Conheceram amigos meus – gays, claro – e puderam perceber que o caráter está acima de tudo.
Eles já chamam a Rita de mãe. É engraçado. Outro dia, em uma conversa, o Matheus olhou para ela e disse: ‘Sabia que eu te amo?’. Todo mundo chorou. Essa emoção, esse afeto, esse carinho que eles têm e demonstram por nós é incrível. Educar meus filhos mostrando essa diversidade vai torná-los adultos conscientes, talvez multiplicadores de conhecimento."
Fátima Silva Alcântara, 37 anos, gerente financeira, é mãe biológica de Fernanda, 13 anos, Nathália, 9 anos, e Matheus, 7 anos, e companheira de Rita de Cássia Santos de Oliveira, 43 anos, cabeleireira, mãe biológica de Alice (na foto, a segunda à esq.), 15 anos, Jozi, 19 anos, Bárbara, 22 anos, e Cristiane, 25 anos, de São Paulo, SP
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